Simbólico, provavelmente das fragrâncias mais clássicas e conhecidas da nossa história. Aqui mencionada tantas vezes e nunca resenhada.
Creio que Chanel n.5 leva à um temor respeitoso, transparecendo a dificuldade de abordar o ícone celebrado em tantas prosas. O que ainda não foi dito?
Nasceu numa época de mudanças relevantes para a humanidade.
Mergulháramos na 1º Grande Guerra mundial, emergíamos em vida mais simples e minimalista numa sociedade voltada para avanços industriais... urbana e mutante.
Nos anos 20 cool era dançar e ouvir jazz ou Blues, se encantar com arte abstrata e surrealismo, admirar a escola de Bauhaus, art deco ou o modernismo de Corbusier.
Chanel vestia a sociedade em preto e branco. Chaplin e o Gato Feliz faziam rir no mesmo dueto de cor.
Mulheres se libertavam dos aromas frescos e desmaiados, das vestimentas sufocantes, escapavam das sombras masculinas se revelando através da fumaça de cigarros, do ousado comprimento das saias, mostrando os joelhos.
Assumiram postos de trabalhos pela premente necessidade de mão de obra, e lá ficaram.
Era a década da eletricidade, do telefone, dos automóveis. Um pós guerra global abrindo espaço para modificações nas ofertas de consumo, e nos costumes.
Chanel 5 adequou-se perfeitamente neste cenário.
Elegante no frasco quadrado, de rótulo minimalista se comparado com os rococós dos anos anteriores, debutava perfeito.
Nome moderno, curto e fashion, fugia dos padrões românticos e tributos à uma única flor.
Para conceituar o sucesso havia a proposta de Coco Chanel...
Sua perspectiva sobre uma fragrância era de algo extravagante, rico e voluptuoso. Um aroma criado artificialmente, e não um perfume como tantos, que deixasse a mulher cheirando igual a uma determinada flor.
A dose extra de aldeídos proporcionou justamente a modernidade que ela buscava.
Trágico desenlace de uma intensa relação amorosa desencadeou a gestação deste perfume... Após a morte de Arthur "Boy" Chapel num acidente automobilístico Madame Chanel entrou em profunda depressão.
Foi levada ao Sul da Franca por um casal amigo e lá resolveu dar seguimento a criação do último projeto idealizado com seu amante: Um Perfume!
Nova paixão, pelo Grão Duque Dimitri Pavlovicht Romanov, a coloca em contato com um perfumista russo, que teria criado fragrância encantadora para a imperatriz Catarina a Grande.
Ernest Beaux, o perfumista, era pródigo em aromas ícones.
Cuir de Russie, Bois des Iles, Gardenia; Soir de Paris e Kobako de Bourjois foram algumas das suas idealizações soberbas no decorrer da profissão.
Nascido em Moscou, trouxe na bagagem o aprendizado russo em cosméticos, e sucessos como Bouquet de Napoleon.
Currículo a altura da maison Coco Chanel.
Apresentou a sua possível cliente, em 1921, referências e algumas fragrâncias dentre as quais a selecionada, Chanel N.5. O nome da maison seguido por um número da sorte.
Inicialmente foram produzidos 100 frascos para presentear amigas e clientes de Madame Chanel, no Natal.
Tal foi o sucesso que em 1924 os proprietários das Galeries Lafayette compraram de Gabrielle Coco Chanel os direitos sobre o perfume fundando Parfums Chanel.
Naturalmente Beaux foi convidado para o cargo de perfumista chefe.
A manipulação de aldeídos crescia revolucionando os hábitos da indústria de perfumes.
Procura do que era clássico previsível e duradouro passou para segundo plano privilegiando novidades de mercados.
Creio que nesta década demos o primeiro passo para a frenética e ansiosa necessidade de lançamentos frequentes no comércio. Em tal velocidade que atualmente se torna impossível acompanhar.
A sociedade perseguia o novo, o desconhecido e daí para o descartável foi um pulo.
Hoje fragrâncias vem e vão como chuvas de verão. Infelizmente. Perdemos um pouco da magia.
Perfumes inesquecíveis marcaram esta década: - Après L'Ondée, Habanita, Emeraude, My Sin, Paris, Guerlinade, Shalimar, Nuit de Noel, Arpege, L'Aimant, Moment supreme...
Entretanto Chanel 5 criou raízes profundas na preferência do público e permanece glorioso até os dias atuais.
O número 1!
Impressão Olfativa
Doçura equilibrada e elegante. Sensualidade animal contida pelo frescor cítrico. Versatilidade do aroma amadeirado em delicadeza de flores. Suntuosidade de vestidos de gala e suavidade das nuvens de talco. Cheiro de banho, spa de beleza e festa noturna.
Atemporal e moderno. Sempre será um sonho de consumo.
*Lembrou-me agora uma vizinha, que se foi, coqueteria realizada, pois conseguira novamente um Chanel 5, através de uma velha amiga viajante.
Ganhara meses antes um Mademoiselle da neta afetuosa e confidenciou-me:
- Foi o Chanel errado...
Ficha Técnica
Família Olfativa: Floral aldeídico, 1921
Gênero: Feminino
Perfumista: Ernest Beaux
Designer:Parfums Chanel
Rastro: Intenso
Fixação: Ótima
Pirâmide Olfativa
- Topo - Aldeídos, neroli, limão siciliano, bergamota , ylan-ylang
- Coração - Jasmim, íris, raiz de lírio florentino, rosa, lírio do vale, pau-rosa.
- Base - Vetiver, almíscar, sândalo, patchuli, musgo, âmbar, baunilha, civeta.