Um acaso fortuito.
Procurava Gucci, a nova coleção, embora alguns lançamentos demorem muito para chegar ao Brasil.
Nada encontrei.
Pelo hábito perguntei à vendedora se havia algum lançamento bom... Animada levou-me para um stand e já foi borrifando a fita de papel.
Gostei, mas foi tão sutil! Necessito mergulhar na fragrância. Pedi amostra para fazer a resenha e enquanto a moça procurava cometi o crime!
Contrariando todos adeptos da nuvem levíssima, chiquérrima, etérea...e econômica, borrifei generosamente a manga da minha camisa de algodão. Branquinha, linda e novinha. Imaginem se mancha!
Impulso de quem ama perfumes!
O algodão retém muito bem a fragrância, como o papel.
Não havia amostra do Bloom of Rose (?) e veio uma do Mon GuerlainFlorale.
Sinceramente não me instigou.
Bem construído sim, com qualidade típica da grife, porém mostra uma notinha frutada agridoce que me impede de sentir todo o resto. Como uma maldição. Foco nela somente nela. Creio que é alguma interação dos cítricos iniciais com pêssego que dá este azedinho estragado.
Não permanece muito tempo ativa e quando desaparece cede espaço ao drydown floral clássico adornado de baunilha e sândalo. Base atraente, entretanto a fase inicial me desaponta.
Enfim, Bloom of Rose tem outra vibe, mesmo que insistam em afirmar que a mudança em relação com Mon Guerlain tradicional foi somente adição de rosa damascena e neroli.
Rosa que não é rosa, neroli suave, lavanda sutil, tênue jasmim, cítricos delicados, baunilha discreta, mel, sândalo, especiarias e ervas frescas. Todos num bouquet deliciosamente doce e impressivo sem atordoar.
A sensação provocada é de frescor e leveza cristalina na combinação que provoca gula do aroma. Um rodopio.
Sabe aquela vontade que temos de apertar as rosadas bochechas dos bebês? É isto com as bochechas da fragrância.
Modula em várias doçuras. As vezes a impressão é de toques de mel, noutra de balinhas de frutas cítricas e finaliza com o espectro oriental do sândalo, em pleno dulçor, como se as flores brotassem desta madeira tão apreciada.
Talvez alguns percebam com desaponto o caráter sintético do floral, que extrapola a similaridade com notas naturais. É isto mesmo. Faz parte do estilo da fragrância.
Bem mais tarde sentindo as várias fitinhas encharcadas, que vieram comigo na caderneta de notas ( sim, eu ainda uso lápis e papel), percebi muito levemente o cármico azedinho, porém na pele não.
Nem na camisa sachet que ficou no quarto, pendurada na cadeira, e não quis ir para a máquina de lavar.
Arroubos de roupa voluntariosa de quem ama perfumes.
Ficha Técnica
Família Olfativa: Floral, março de 2019
Gênero: Feminino
Perfumista: Thierry Wasser e Delphine Jelk
Fabricante: LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton
Rastro: Intenso
Fixação: Boa
Campanha: Angelina Jolie
Pirâmide Olfativa
- Topo - Alfazema, notas cítricas
- Coração - Rosa da Bulgária, jasmim sambac, neroli
- Base - Baunilha do Tahiti, madeira de sândalo