Sonhei que tive um sonho.
Deslizava pelo tempo, delicada e leve como uma pluma, tingida pelas mil cores dos lugares visitados.
Maravilhada, em cada canto vestia folhas secas impregnadas pelos odores e histórias de toda gente.
Visitei os primórdios africanos, rococós e rendas, estepes geladas, palácios, florestas e desertos empoeirados. Conheci bárbaros, príncipes e gentio, senti o calor dos dragões.
Ri e chorei deslumbrada com o passado, embora não tenha ultrapassado umbrais do futuro.
Fiz-me rainha dentro de pirâmides entre milhares de óleos aromáticos, joias perfumadas que me aprisionaram em teia dourada.
Um sábio de mágicas e filosofias pediu-me para escolher apenas um e seguir viagem.
Não consegui.
Na gula incoerente queria todos. Restou-me a jornada, sem nada na bagagem, com todos os odores escondidos, em nichos secretos da memória, pelo tempo.
Mistérios insondáveis a espreita nos labirintos da mente. Que chave abriria esta arca oriental e perfumada?
Seria um attar de oud, de rosa damascena, patchouli, mirra, de sândalo, incenso, ou de almíscar?
Talvez aquele que encerrasse todas as notas na sua composição em sinfonia de beleza harmônica e estonteante.
Experimentei a primeira chave, esculpida na rara madeira Agarwood...
Recapturando da resenha Távola 6 um momento de sonho... uma inspiração.