Quem nunca... se revoltou ao provar um frasco novo de uma fragrância amada e se deparar com mudança no aroma? Geralmente de menor qualidade olfativa?
Acontece muito.
Clássicos repaginados, pálidas sombras do esplendor original.
E nos perguntamos o motivo...
São vários e fundamental é a ausência de matéria prima, que ocorre por razões variadas:
- Órgão fiscalizadores oficiais ou governamentais, como a Comissão Europeia, listam ingredientes cujo uso é considerado risco para a saúde ou meio ambiente. Assim tornam-se proibidos para a perfumaria. Fragrâncias que tinham como nota principal o musgo-de-carvalho, bergamota, rosa e canela, entre outros óleos imprescindíveis, hoje carregam na sua composição similares sintéticos, ou misturas que lembram seu odor.
Para driblar estes contratempos as grandes casas procuram o desenvolvimento sustentável das espécies que lhe são úteis, garantindo assim o fornecimento.
Quando esbarram com proibições legais tentam através da pesquisa elaborar substâncias que tragam as mesmas sensações olfativas provocadas pelos óleos naturais.
Métodos modernos e tecnologia de ponta em destilação, extração e fracionamento de matérias-primas fazem com que esta similaridade seja mais eficaz hoje do que nos anos 80 ou 90.
Muitas fragrâncias centenárias estão sendo reeditadas de maneira que sejam mais fiéis às fórmulas originais.
Trabalho dispendioso, que na medida do possível é feito com a participação do perfumista criador, obedecendo ao propósito de "changer sans changer" ou "mudar sem mudar".
Demanda muito tempo (anos) e dinheiro conforme afirma o nez da casa Chanel, Olivier Polge.
Embora técnicas recentes permitam a extração dos componentes tóxicos ou alérgenos, um óleo essencial reciclado perde características que afetam a durabilidade ou intensidade do perfume.
Exemplo disto é o musgo-de-carvalho quando retiradas as moléculas de atranol e cloroatranol, com consequências na percepção do produto final.
Se considerarmos custos de pesquisa, ou sucesso na reformulação, algumas fragrâncias apenas desaparecem por não atenderem as expectativas de lucro ou qualidade.
Pierre Guillaume não satisfeito com a reformulação de Un Crime Exotic (2007) simplesmente o retirou do mercado.
Mitsouko de Guerlain ,com 100 anos de criação, não é o mesmo. Igualmente Opium de YSL, Poison e Eau Savage de Dior, Magie Noire de Lancome, Quelques Flores L'Original de Houbigant.
Grandes empresas como Givaudan, Firmenich, Symrise e IFF,geralmente detentoras das fórmulas, fazem o possível para não decepcionar os consumidores, e garantir sua fidelidade à fragrância, entretanto na prática a decepção é uma constante.
Sem dúvida existe uma grande dificuldade em manter o padrão dos clássicos da perfumaria, ou de fragrâncias mais recentes, e os gigantes deste meio trabalham em silêncio. Marcas não permitem que estes ajustes sejam divulgados.
Entretanto nós percebemos!
Referências: Dados obtidos no artigo de Claire Dhouailly em Le Monde